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Pequena compilação sobre o orixá Obà*


Objetos e objetivos não identificados. Foto de Naiara Paula.

Em algumas literaturas aparecerá que Obá é a senhora do vermelho “Obá tem um caráter apaixonado, irascível e corajoso, não teme nada nem ninguém e gosta de brigar. Nada mais natural que ela aprecie a cor vermelha, tão ligada a emoções fortes” (Martins, 2002, p.75). Mas suas guerras são as mais justas, mas justiça com a espada. Sua essência de deusa é vencer. Toda terra teme ao ouvir o barulho de seus passos. Energia feminina de fúria, seu vermelho-mulher é o vermelho-sangue do útero feminino; e, também, o vermelho-sangue da guerra. O prenúncio do aniquilamento certo.

Obá é uma exímia caçadora e também usa o ofá como arma de guerra. Presente de Oxosse, seu fiel amigo, sua outra face.

Escultura em madeira de Cláudio Café.

Obá reinou soberana em Eleko e um oriqui[1] frequentemente cantado nos xirês[2] em louvor à deusa repete o refrão “Obá Eleko aja osi”, que significa, “Obá da sociedade de Eleko, guardiã da esquerda”. Ser guardiã da esquerda fala de sua relação com o feminino, a esquerda é o lado do coração, onde está guardado o amor, o que não se pode esquecer, o que está diretamente ligado com o fato dela ser a rainha de uma sociedade de mulheres. Então Obá é a guardiã de tudo aquilo que é feminino, ou que pertence as mulheres, ao mundo feminino, ou ainda numa outra interpretação, que nos liga ao fato de ser ela chefe da sociedade, Obá de Eleko, a guardiã da sociedade das mulheres ou a guardiã das mulheres, guardiã do amor.

Obá, de Caribé

Quando perguntei como poderia uma mulher ser tão apaixonada e ao mesmo tempo ser considerada a própria guerra Mãe Beata respondeu: “_ Mas não importa, você pode ser apaixonada e ser uma grande guerreira. Já a paixão já é guerra...”

Sua pele era cor de ébano e exalava um perfume raro, seu corpo, possivelmente era de uma estrutura forte por se tratar de uma guerreira e, guerreira de muitas guerras. Atentemos para o fato de que reconhecer Obá como uma Senhora, ou uma Senhora idosa, fala de sua posição como rainha, seu parentesco direto com as Senhoras primordiais e seu conhecimento em feitiçaria, pois senioridade em tais culturas é uma dádiva e nunca uma depreciação. Ela é idosa, viveu mais e reúne poder e conhecimento. Portanto, o que em nossa cultura ocidental poderia significar defeitos, era, na verdade, grandes qualidades. Uma mulher negra de corpo forte e traços firmes talhados pelas guerras seria em nossa sociedade considerada feia, “Obá era um orixá feminino muito energético e fisicamente mais forte que muitos orixás masculinos” (Verger, 1981Ib, p. 186, apud Carneiro e Cury, 2008, p. 129).

É perceptível o traçado forte no talhamento da madeira para representar Obá na obra da artista Gisa Marques.

Obá marcava em seu corpo cada guerra que vencia e essas marcas eram adornos corporais que além de dar-lhe beleza dava-lhe também reconhecimento e altivez. Enxergar Obá como mulher feia, possuindo ela os atributos acima citados, não é diferente do que acontece com as mulheres negras de nossa sociedade, que quanto mais genuínas são suas belezas africanas, mais são alijadas do padrão de beleza vigente. O contrário, no entanto, acontecia em terras africanas.

A mais próxima da sociedade Eleie liderada por Odu é Obá _ Odu é a maçonaria das mulheres pássaros _ “Obá é a descendente que mais se aproxima do poder que Odudua tem sobre todos os elementos que levam às artes da feitiçaria e bruxaria”.

Obá domina os quatro elementos. E isso é um mistério valioso de sua essência. Ela precisa estar ligada ao ar justamente por seus fortes poderes de feitiçaria e o ar é onde os espíritos vagueiam; “tal como Oxum e Iemanjá, Obá é uma deusa aquática por natureza” (Franchini, 2011, p. 225), e gosta da força das correntes, tem um rio na Nigéria que leva seu nome, o rio Obá, as águas de Obá são fortes e barulhentas; a terra porque é caçadora e anda no meio da mata e “é o princípio arcaico do fogo” (Luz, 2000, p. 63), o fogo é um elemento de força e Obá está relacionada a tudo o que é forte. Oosa, oosa Obá! – Obá é da guerra.

Todo direito reservado. Proibida toda e qualquer reprodução sem citação.

*Parte da dissertação de mestrado "A Face Guerreira das Iabás, de Naiara Paula.

[1] Narração em louvor ao orixá. Pode ser cantados ou simplesmente narrados e expõem histórias das vidas das entidades ou de suas virtudes. São geralmente educativas.

[2] Roda onde se organizam os membros da casa para a festa pública inicial. O xirê é uma criação brasileira para a possibilidade de adorar todos os orixás numa só festividade.


 
 
 

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Por Naiara Paula Eugenio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem do cabeçalho: Mulher com duas crianças carregando uma cabaça na cabeça (Arugbá). Madeira, uáji, pigmentos outros. Século XIX.

 

Arte Iorubá atribuída a Kobi Ogun Kakeye d'Òràngun-Ìlá.

 

Museu de Arte, Foudation for the Arts Collection, Gift of Mr. and Mrs. Atanley. Dallas, EUA. Fonte: Babatunde Lawal. 

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