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Ler, escrever, esquecer


Ler, esquecer, escrever; de Naiara Paula

Começo de ano é sempre aquela correria com os livros de férias. Eu chamo de livro de férias os livros que eu não preciso ler pra fazer algum trabalho acadêmico, acontece que a essa altura, fazendo um doutorado, tudo vira material de estudo, até um livro sobre a Noruega te faz pensar em relações históricas que poderiam… Enfim. É que eu sou louca por romance e faz tempo que não dá, acho que vocês, que estão no mesmo momento que eu, ou mesmo não, entendem do que eu estou falando. Então eu tenho centenas de livros de férias em casa - que eu nunca leio -, vou comprando e acumulando, estou pensando em fazer análise só pra cuidar disso, porque eu dou a mínima pra consertar o cano que estourou na cozinha, mas compro livros que eu nunca vou ler, é uma obsessão! Ah, os tempos em que não dormia só pra terminar aquele livro bão!

Certo, mas vamos falar sobre esquecer os livros de férias. Não, vamos falar sobre esquecer, e os livros de férias entram aí. Então acabou que os livros de férias tiveram que virar os livros acadêmicos, com a desculpa de que “ah, mas esse não faz parte da minha pesquisa, então é livro de férias (risos)”. Só que isso é sempre uma mentirinha. Esse ano eu não consegui ler um livro de férias, eu não consegui ler um livro, o que é raro. Vou explicar, eu estive viajando durante três meses entre Estados Unidos e Europa e minha maior motivação era: comprar livros! Eu cheguei em casa já na metade de Janeiro, a casa estava uma selva, eu tinha um milhão de coisas pra resolver e? Dezenas de livros novinhos na mala. Resultado: me vi louca! Pego um livro daqui, outro dali, leio um, leio outro, marco, traduzo um parágrafo, corrijo um texto de um aluno (ler 15 ou mais páginas de cada, super responsabilidade), ou seja, li e não li nada. Daí que chegou Fevereiro, mas esse ano carnaval é só em Março e o começo do ano vai lá pro mês que vez, então penso que tenho a chance de fazer do meu Fevereiro o Janeiro perdido. Vou na estante. Vou ler enfim a Odisseia, “ai, essa edição está maravilhosa!” Não, vou querer pesquisar cada coisa e não vai dar tempo. Um mais descontraído, Gean Genet? As novelas de Cervantes? Não, tem aquele livro do Octavio Paz que eu estou pra ler há um tempão… “Olha, quer saber!? Não vai dar tempo de ler todos esses, eu tenho menos de um mês e sou lenta, os livros de férias serão livros de Filosofia, assim eu vou tendo ideias pra tese e não me sinto perdendo tempo”. E eu caio naquele grande buraco outra vez.

Daí que eu volto pra estante e seleciono uns dez livros sobre estética ocidental (eu estudo estética Africana), para serem minhas leituras de férias. Dale Fevereiro! Vamos lá! Abro o primeiro livro: todo marcado, já li o livro umas duas vezes. Abro o segundo livro, tenho uma resenha dele, ah, passei um semestre lendo esse livro… quinto livro, li na graduação, nossa, faz muito tempo, tudo bem esquecer! Não, não tá legal esquecer tantos livros que se leu, principalmente se é esse o seu ofício. Nessas horas eu me lembro daquele semestre em que passei lendo as infinitas cartas de Nietzsche e que no meio de uma de nossas leituras nos veio a mente que o grande filósofo precisava escrever suas ideias para não esquecer, as cartas, inclusive, eram resultados do “precisar escrever para deixar gravado”, fora os caderninhos de resenhas e memórias que carregava consigo. Se o grande Nietzsche podia esquecer, por que eu não posso!? Me lembro de Deleuze dizendo que também precisava escrever para não esquecer em uma daquelas entrevistas espalhadas pela internet e que por isso fazia suas monografias, ou será que foi a doutora Vera Portocarrero quem me disse? Que seja! Estamos quase na década de vinte dos anos dois mil, a quantidade de informação que nos chega fora dos livros é tanta que mais nos atrapalha que ajuda, se esses grandes filósofos concentradíssimos em seus ofícios esqueciam o que liam, imagine a gente. Então a receita é segui-los: escrever para não esquecer. Tudo bem, a gente não precisa pensar em fazer igual as grandes monografias de Deleuze sobre tudo que nos interessa (risos), uma resenha já ajuda! ;) E, pensando nisso, humildemente vou tomar essas ideias emprestadas e fazer algumas resenhas ou resumos, só pra não pegar livro repetido na estante, porque, olha, a fila tá grande!


 
 
 

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Por Naiara Paula Eugenio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem do cabeçalho: Mulher com duas crianças carregando uma cabaça na cabeça (Arugbá). Madeira, uáji, pigmentos outros. Século XIX.

 

Arte Iorubá atribuída a Kobi Ogun Kakeye d'Òràngun-Ìlá.

 

Museu de Arte, Foudation for the Arts Collection, Gift of Mr. and Mrs. Atanley. Dallas, EUA. Fonte: Babatunde Lawal. 

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