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Mulheres pretas merecem ser amadas como são.

Naiara Paula

Eu mereço ser amada. Negra, gorda, feia, agressiva, violenta... Eu mereço ser amada. Mereço atenção, carinho e cuidado e acima de tudo mereço ser compreendida e perdoada todas as vezes que for necessário. Eu mereço ser amada do jeito que sou - salvo as modificações costumeiras para se adaptar ao outro -, todo mundo merece ser amado do jeito que é. E, enquanto mulher, não feminista, mas de luta ancestral, mereço ser ainda mais amada pelas lutas que travo todos os dias e que me machucam sem volta deixando a ferida aberta e cada vez mais aberta. Eu mereço ser amada por um homem ou por uma mulher que não me exija submissão ao seu jeito de ser, mas tente entender que o caminho é de dois, três, quatro... De toda a comunidade preta e que mulheres não tem, nunca tiveram, e nunca terão que se adaptar a eles. Eu mereço ser amada por um homem ou por uma mulher que entenda que eu sei gritar e bater e discutir sobre minhas causas sem que isso o ofenda, mas sim o encha de orgulho de mim. Que não me exija pedir perdão por ser forte e altiva, mas discuta um caminho para um bem viver entre as pedradas do mundo. Eu mereço ser amada por uma mulher ou um homem que entenda que meu corpo de mulher preta é sagrado, e, portanto, meu ventre é sagrado e por isso, não é para ser penetrado apenas para uma noite de prazer. Eu mereço ser amada por uma mãe e por um pai, que não vire as costas para mim enquanto acaricia um outro filho, eu mereço atenção e cuidado como todo mundo, mesmo que eu não seja como todo mundo. Eu mereço que sintam minha falta, que me desejem, que me tratem como a princesa africana que sou. Eu mereço ser amada por alguém que não sinta medo de mim, de quem eu não sinta medo.

Nós, mulheres negras, não feminista, talvez mulherista, precisamos de parceir@s de lutas, sejam pais, mães, irmãos ou irmãs que nos ajudem a amenizar a ferida do racismo e não que nos exijam pedir perdão por sermos fortes e decididas, precisamos caminhar juntos, sem subjugação. Merecemos que nossos corpos gordos e pretos, ou de quaisquer outras formas, sejam amados como são, fora do modelo preta tipo exporatação - e essas também merecem ser amadas -. Eu mereço ser amada por alguém que não vai escolher entre mim e a mocinha coquete que sempre diz sim. Eu mereço ser amada por alguém que não vai me tratar como a última opção da noite para seu prazer corporal. Eu mereço ser amada por alguém que me admire, que me ajude a melhorar, que me aceite, que caminhe ao meu lado sem interesses, sem se sentir menos ou maior, sem demonstração de forças, sem usar o que eu disse contra mim. Eu mereço ter amigos que me ouçam nos momentos de angústia para que eu não enlouqueça. Eu mereço ser amada como uma deusa para o tantra, como uma rainha africana, como uma mulher apenas. Eu não só mereço, como quero e espero.

"Eu posso ser mulher, posso ser negra, posso até ser feia, mas eu estou aqui, eu estou aqui!"


 
 
 

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Por Naiara Paula Eugenio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem do cabeçalho: Mulher com duas crianças carregando uma cabaça na cabeça (Arugbá). Madeira, uáji, pigmentos outros. Século XIX.

 

Arte Iorubá atribuída a Kobi Ogun Kakeye d'Òràngun-Ìlá.

 

Museu de Arte, Foudation for the Arts Collection, Gift of Mr. and Mrs. Atanley. Dallas, EUA. Fonte: Babatunde Lawal. 

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