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Objetos e Objetivos não Identificados


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Prefácio para à Série Objetos e Objetivos Não Identificados

A ideia desse pequeno livro me veio depois que fiz meu mestrado em crítica e história da arte na Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 2014 e defendi uma dissertação sobre a arte produzida para o terreiro de candomblé. Tanto foi o estranhamento do púbico das artes e da filosofia - meu primeiro curso e coluna vertebral de minhas produções - para bom, mas muito mais para ruim, que decidi escrever sobre as críticas recebidas e assim responder de uma só vez perguntas que na verdade eram verdadeiras afirmações sobre porque a África está excluída da história da arte feita em todo o mundo, por nossos historiadores da arte brasileira, em especial os acadêmicos.

A exclamação inicial é que sim, a África está excluída da história da arte feita no mundo europeu! Mas até que ponto isso nos é verdadeiramente importante? Para mim essa é uma pergunta retórica, pois isso não é, nunca foi e não precisa ser importante para que possamos contar nossa própria história da arte. Para escurecer essa questão começo por alertar aos queridos leitores, que esse estudo parte de uma indignação causada por conta de perguntas baseadas numa história ocidentalizada, e, portanto excludente, mas não se pretende perder muito tempo com ela. Ao que se pretende então esse pequeno estudo? A uma teoria da arte africana a partir de África, com nossas próprias regras e conceitos de criação e ainda espantar o fantasma do nome “arte” e talvez “filosofia”, tão resguardado pelos ocidentalizados como sendo supostamente capaz de traduzir algo que é somente deles e intocável e impossível de ter aparecido no restante do mundo antes mesmo de qualquer organização precisa destes, o que é um erro absoluto. Também aviso aos queridos leitores, que não tenho a menor intenção de ponderar, o que vos lhe apresento é um suleamento (dentro dos termos ocidentais de orientação geográfica), para os que precisam se nortear, proponho as edições tradicionais (ainda dentro dos termos ocidentais de orientações históricas) de historia da arte.

Como podem notar já nessa introdução, esse pequeno estudo não se julga puro e não se pretende à uma teoria purista, por uma razão muito simples: a primeira é que não acredito, não valido, e para ser mais direta a acho perigosa e danosa; e segundo porque é escrito por uma mulher nascida no ocidente e que, ademais, não o despreza, apesar de tudo, mas que ao contrário disso, possui prazer no aprendizado de todos os povos e que foi formada por esse específico. Mas que, no entanto, se coloca para fora, ou para dentro, se estivermos falando de uma busca genuína de origens, no sentido de que África é a origem do mundo. E a terceira é que não dá para falar em arte pura dentro de um continente, e ainda que eu o reduza ao povo Yorubá, este tem suas diversidade que se estende ainda na diáspora.

Quando escrevo “nosso”, me referindo a África continental, é obviamente porque sou africana. Africana na diáspora, nascida no Brasil, o que não me deixa menos feliz, mas explica que a África é a doadora, explica ainda que não pretendo abandoná-la, ainda que seja ou esteja uma criatura para o mundo e ainda que o mundo esteja para mim e não negando minha origem africana, não nego a história que me fez nascer aqui, seu desencadeamento e também seus encantamentos; subsídios valiosos para uma construção cultural e individual.

Pois isso, o nome “objetos e objetivos não identificados” vem de uma indignação, a indignação da invisibilidade da cultura afro-brasileira que a imagética nacional com toda sua força tenta negar, negando ainda a grande contribuição da população negra afro-descendente para a construção desse país. Objetos e objetivos fala de arte e filosofia, fala de uma estética negra portanto, que enraizada sustenta os alicerces culturais desse país, mas ainda assim segue não identificada, para nosso total espanto. Esse livro é uma pequena e modesta contribuição para a visibilidade desses objetos e objetivos, desse corpo grande e volumoso que se movimenta por nossas ruas e nós fingimos não ver a não ser que seja para o lugar da discriminação e criminalização. A cultura afro-brasileira nesse livro tem forma e conceito, é visível, visual, é teórica e filosófica e se mostra viventemente ativa, producente e capaz, como aliás, sempre foi, ainda que não tenhamos tirado a venda de nossos olhos. O livro Objetos e Objetivos Não Identificados se propõe a pensar filosoficamente a arte afro-brasileira a partir de África, por isso, se propõe também a demonstrar teorias, artes visuais e traçar suas devidas conjunções dentro de um universo que valoriza o conhecimento africano e o entende como doador

A série Objetos e Objetivos não Identificados faz parte de um estudo da arte africana e afro-brasileira de descendência Yorubá; principalmente, mas não somente da arte produzida dentro e para o terreiro de candomblé. Essa coleção inclui um primeiro trabalho de fotografias das obras, dos movimentos que dão vida às obras e também de inspirações a partir dessas obras.

Objetos e Objetivos não identificados é uma série de três trabalhos, ensaios fotográficos, crítica de arte e filosofia da arte e estudo de imagem a partir da mitologia.

Num primeiro momento esta série busca no feminino ativo de Obá, Euá e Oiá o viés do sua investigação na busca por se aprofundar nos conhecimentos e valores femininos que essas divindades doam para os movimentos culturais e para a vida das pessoas de modo geral retratado em imagens produzidas por mim num trabalho de busca íntima mas também de inspiração. Num segundo momento, procura não perder o foco do feminino ativo, mas busca raízes e influência expansivas na arte africana e afro-brasileira para construir um estudo teórico-filosófico dessa trajetória artística. Feito isso, procurarei estabelecer laços com algumas imagens e ações produzidas com o intuito de contribuir para o acervo da arte afro-brasileira, assim como também as historicamente já produzidas.

Livro 1

Esse livro da série é composto por fotografias tiradas no Ileomiojuaro, de Mãe beata de Iemanjá; Ilê Omolu Oxum, de Mãe Meninazinha da Oxum, obras de artes, feiras, ateliês e ensaios inspirados.

Livro 2

Por Uma crítica da arte Africana e Afro-Brasileira

Livro 3

História e Crítica da arte Afro-Brasileia de origem Yorubá


 
 
 

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Por Naiara Paula Eugenio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem do cabeçalho: Mulher com duas crianças carregando uma cabaça na cabeça (Arugbá). Madeira, uáji, pigmentos outros. Século XIX.

 

Arte Iorubá atribuída a Kobi Ogun Kakeye d'Òràngun-Ìlá.

 

Museu de Arte, Foudation for the Arts Collection, Gift of Mr. and Mrs. Atanley. Dallas, EUA. Fonte: Babatunde Lawal. 

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