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Arte Iorubá: Pesquisa e Expografia Tesouro dos Nossos Ancestrais

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Exposição Virtual 
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Projeto expográfico: Naiara Paula Eugenio

Pesquisa e aplicação: Naiara Paula Eugenio

Textos: Naiara Paula Eugenio

Pesquisa catalográfica: Carolina Maíra Morais

Pesquisa contextual das peças: Carolina Maíra Morais

Organização de Fotografia: Érica Lemos e Ajoyemi

Designer: Vitor

Elaboração e Montagem do Museu Virtual: Iynka 

Direção: Carolina Maíra Morais

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Letra Nimbus Sans. 12, cor preta, justificada. Caixa de texto.

A ideia desta exposição nasceu no coração do Óòní de Ifé. O sentinela do trono de Oduduwa pensou nessa exposição como um modo de se relacionar com o povo africano na diáspora, um elo entre Ilê Ifé e Brasil. Entendemos que a arte tem o poder de nos conectar com nossa ancestralidade, o que podemos perceber muito facilmente nas manifestações culturais de origem africana no Brasil e em África. Então, nada melhor do que uma exposição de arte, para a qual foram selecionadas com carinho peças exclusivas do acervo do Óòní de Ifé e que traduzem em imagens a cultura iorubá na África e no Brasil.  

Buscamos discutir nesta exposição um conceito muito vivo para a Estética Iorubá, o de que o elemento material e o imaterial são inseparáveis na criação da obra de Arte. Aqui, com a apresentação das obras, você vai poder conhecer os elementos que as sacralizam, a iconografia de comunicação com a ancestralidade, organização social e celebrações. 

O que faz uma obra de arte viver? O que confere movimento à ela? O itan iorubá da criação da pessoa humana diz que um deus artista de energia feminina e masculina, Obatalá, pegou o barro de domínio de Nanã, uma deusa de energia feminina, e moldou a primeira obra de arte, essa obra de arte era a pessoa humana. E assim nasce o povo iorubá em Ilê Ifé, como obra de arte. Com o cuidado de um artista dotado de ojú inú, o olho interno que nos possibilita olhar pro mundo com sensibilidade estética, Obatalá produziu cada parte da obra de arte que é a pessoa humana. O deus Ogun, utilizou suas ferramentas para esculpir os detalhes dessa obra, como o rosto e suas feições, mãos e pés. Feito isso, Olodumare, o deus supremo quem encomendou a obra de arte, soprou nela o emí, o movimento. Porém nada estava terminado sem a cocriação feminina de Ìyá, aquela que, sem a qual, a vida não seria possível. Seu grande poder empreende um papel de suma importância na criação dessa obra de arte, ela gera toda a humanidade, faz do movimento vida possível, além disso, produz a beleza impressa na arte que é a pessoa humana. Beleza e arte nascem juntas sintetizadas no corpo físico da obra que é, ele mesmo, a união dos elementos materiais e imateriais. Sem o papel fundamental de Ìyá, nossa ancestral mais antiga, a genitora de tudo o que vive, inclusive do abstrato, como a própria ideia da criação, intelectualidade, força organizacional, etc., a arte iorubá não seria possível. Por isso, vamos ver nesta exposição um tema que é  recorrente para a arte iorubá, o feminino, seja em iconografia ou homenagens. 

Esse processo de criação elaborado pelos deuses é continuado na cultura, e toda a obra de arte contém os elementos materiais e imateriais. Os elementos materiais são facilmente identificáveis, a madeira, o pigmento, as feições do rosto de uma escultura, os detalhes de um instrumento musical, por exemplo. Os elementos imateriais são, sobretudo, os rituais proferidos para trazer vida e significado cultural e espiritual para essas obras, que não são, justamente por seu processo de criação, apenas objetos de mostragem;  ou o pedido de elaboração de um bom caráter individual e coletivo impresso nessa materialidade. Isso pode aparecer de várias formas, como por exemplo em narrativas que fixam costumes sociais, ensinamentos, demonstração de espiritualidade, respeito comunitário, narrativas de itans ou louvores aos ancestrais. Tudo isso movido pelo axé, essa energia de potência, da possibilidade do vir a ser.  E são essas características da arte iorubá que desejamos trazer para esta exposição.  

Foi um desejo grande dessa equipe poder citar os artistas das obras aqui apresentadas, mas infelizmente as obras não foram adquiridas num circuito que possibilitasse essa identificação. Algumas obras foram adquiridas em feiras de arte ou em casas de axé (uma tradução aproximada para o que o ocidente chama de santuário). Obras iorubás são realizadas com o firme propósito de serem objetos de arte e proporcionar prazer estético, seja ela funcional ou não. O caráter coletivo dessa produção muitas vezes, mas não toda, notem, faz com que elas sejam absorvidas pela população e sua origem diluída nos mercados de arte de onde são adquiridas. Isso não é uma regra geral, visto que sabemos que alguns escultores são conhecidos e requisitados por suas habilidades artísticas e seus ateliês são intensamente frequentados. Já as obras apresentadas aqui, tomaram como origem o acervo do Ooni.[quais feiras e quais casa de axé?]

Esta exposição é uma ponte sobre o Atlântico que nos conduzirá de volta aos nossos ancestrais, à nossa terra mãe. As peças foram selecionadas por uma equipe muito atenta à cultura Iorubá, separadas em temas filosóficos para que possamos aproveitar esse mergulho especial no significado da arte para o nosso povo. 

Retiradas do coração do Óòní e elaborada com esmero para celebrar nossa união e ancestralidade, com curadoria de Naiara Paula Eugenio e Carolina Maíra Moraes, apresentamos a Exposição Tesouro dos Nossos Ancestrais, a partir dos temas Axé, Orí,   Ìwà L’wá e E ku.

Naiara Paula Eugenio

 Cinzel, 30 e 20, cor preta, centralizada.

Galeria 1

Axé

Obras: Èṣù, Ọpọ́n Ifá 1, 2, e 3; Iroke Ifá 1, 2 e 3.

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Letra cinzel, 14, preta, centralizado, topo. Caixa de texto sobreposta à imagem.

Axé tem um papel fundamental para a arte iorubá, pois é ele quem influencia na criação de determinados estilos que os iorubás entendem que são capazes de trazer e movimentar o axé através da obra de arte. E já que não existe vida sem axé, porque asè é a força da vida, estes estilos são seriamente observados. Padrões estéticos são construídos de forma a atrair axé e movimentar a vida coletiva. Então, axé não é algo puramente abstrato, além de ser uma energia que gostamos de pensar ser manipulável pelo artista, sacerdotes e pessoas de uma comunidade, axé também é algo material, passível de preparo e manuseio. Portanto, para uma Iorubalândia tradicional, um indivíduo pode carregar o axé consigo  não só no corpo como substância ou energia, mas como objeto e, muitas vezes, como objeto que foi feito com padrões estéticos para reservar, ser morada ou o próprio axé. A arte é sempre presente, porque o axé pode estar contido nas pessoas, animais, na natureza externa, em poções que serão absorvidas pelo corpo ou em  objetos que não são obras de artes, mas também nos que são obras de arte. Nos que são obra de arte, podemos observar padrões estéticos da cultura iorubá, como por exemplo, as lapidações da cabeça de uma escultura, que são especialmente feitas para concentrar axé. Então uma obra de arte é construída sob esses padrões para fazer com que isso aconteça.. 

Para os iorubás todo o pluriverso é vivo, assim tudo no ayê e fora dele tem asè. Axé é a semente que germina, a energia dos corpos que dançam, a saciez que a água traz. Axé é o sagrado no seu sentido mais amplo, aquele que alcança todas as coisas; aquilo que é maior valioso, aquilo que não se pode viver sem. Por isso, axé é o que permite o cotidiano acontecer. Porque na Iorubalândia tradicional todas as coisas estão inter comunicadas (intracomunicadas), por isso o axé é aquilo que movimenta as potencialidades, que permite o vir a ser e isso é o absolutamente natural, porque o absolutamente natural é inter comunicado (intracomunicado) com o sobrenatural. Nesse sentido, axé fala de uma coletividade nas comunidades de pessoas humanas, ancestrais e tudo que as íntegra, já que está tudo conectado; e, por isso, também da força contida nas obras de arte, da concordância, do selo após um pronunciamento de um oriki, de uma ação bem realizada, de uma obra que cumpre os seu objetivo de tocar esteticamente os indivíduos. Assim, axé é uma chave de autoridade concebida em comunidade. Diz-se em iorubá: “Ohun èwí ayé báwí òun Lẹ́wá Ọ̀run ngba” - Aquilo que a coletividade dos viventes ordena, é o que a coletividade dos céus aprova, axé é a energia que faz essa comunicação acontecer. Podemos direcionar esse entendimento também para o ofício do artista que investe em produzir padrões estéticos a fim de se comunicar e armazenar axé. Então, isto é real nas obras de arte.

Naiara Paula Eugenio

Axé

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Letra cinzel, 30, preta

Èṣù Ẹlẹgḅ̀ára

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Nimbus Sans, 14, preta centralizado. Caixa de texto.

Altura/largura: 40.64 cm / 5.08 cm, aproximadamente 3kg . Material: Madeira, couro, búzios, pigmento. Local de aquisição: Ilê Ifé. Acervo pessoal do Oòní de Ifé.

O famoso penteado de teor fálico dessa escultura nos remete a esse símbolo muito conhecido de Èṣù, o órgão sexual masculino e  a geração de vidas, que carrega em si significados complexos relacionados também a comunicação e dinâmica do orixá representado. Sua trança, que tende ao chão, algo como um simbolismo de uma cabaça de pontas para baixo, esconderia os olhos que acredita-se que esse orixá tem atrás de suas cabeça, e também uma faca afiada chamada de sónsó òbe.  Além disso, representa um de seus ofícios, o de fazer a ligação entre o Ọ̀run e o Àiyé. Sugere também uma crista de um galo, animal de relação íntima do orixá, e evoca a ancestralidade de Òrìṣànlá e de Oòní. Em cima de suas tranças vemos tufos de cabelos chamados òṣù, um símbolo de poder, um dos recursos estéticos que concentram o axé na escultura, que nos remete às sacralidades e relacionamentos com outros do orixá. Na mão direita carrega o que nos parece um Ọ̀gọ, na mão esquerda, algo semelhante a um facão,  que simboliza seu domínio sobre energias opostas, que pode proporcionar bênçãos e também morte, e representa o controle entre bem-estar e perigo entre os humanos nascidos e a ancestralidade.  Os chifres de búfalos estão ligados à realeza como símbolo de poder e acredita-se que o que se carrega dentro dele é a mica, um pó medicinal.  O índigo é associado a oduduwa, às mulheres reais e às ideias de caráter. O pigmento chamado wájì é utilizado na Iorubalândia para esfregar nas imagens e consagrá-las, um dos muitos rituais que trazem as obras de arte à vida.  Nós conhecemos Èṣù Ẹlẹgḅ̀ára como o deus dos caminhos, muitas vezes representados por estradas que nos remete à possibilidades o fluir das vidas e projetos. É também o deus dos mercados, do movimento da troca, da negociação do dinheiro. Ele é aquele que faz a transação financeira, por isso está envolto em búzios, moeda antiga e símbolo do dinheiro, mas também das transformações e aquisições que fazemos com ele.  (orita meta, orita meerin). Aquilo que se comunica é o espaço de Èṣù, a divindade que governa todas as portas, porque porta é acesso, e a comunicação que movimenta as relações.  ou formas de comunicação. Èṣù Ẹlegḅ̀ára tem uma relação próxima com Ọ̀runmìlà,  por isso participa de durante cada processo de adivinhação de ifá, possibilitando a comunicação entre os envolvidos e o mundo não material.  Èṣù Ẹlẹgḅ̀ára ajuda a construir o caráter humano, uma vez que continua a colocar o carácter de todos à prova através de experiências de vida, o que significa colocar o indivíduo numa dinâmica de vida. Nesse sentido, a encruzilhada, onde as estradas se encontram e se separam, representa o ponto crítico em que cada ser humano deve fazer uma escolha na vida. 

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Letra cinzel, 30, preta

Ọpọ́n Ifá

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Letra Nimbus Sans, 14, preta centralizasa. caixa de texto.

Largura/altura: 44.45 / 44.45 cm.  Peso aproximado das peças: 2 kg. Material: madeira. Local de aquisição: Ado Ekiti.

 

Ọpọ́n Ifá é uma bandeja em que se faz a adivinhação de Ifá. A fundição de Opele, o fio sagrado para adivinhação de Ifá, é feita sobre ela. A permutação envolvida na adivinhação também é feita sobre ela, uma vez que o adivinho usa os seus dedos para criar codificações simbólicas e fazer descodificações no decurso de um exercício de adivinhação. Há uma criação de marcas simbólicas, as codificações, que é auxiliada por, ierossun, um pó sagrado de Ifá que é  espalhado sobre a superfície plana da bandeja. 

Os motivos esculpidos nos Ọpọ́n Ifá podem ser muitos, algumas vezes contam histórias de axé, como nessa peça onde podemos ver um rosto que simboliza Exu, o orixá da comunicação e possibilitador dos acontecimentos. Aqui ele faz o trabalho de garantir que a conversa entre o babalawo e o indivíduo seja satisfatória, assim como a comunicação com o orun. Essa imagem de Èṣù é trabalhada no topo da bandeja, enquanto imagens de animais e demais personagens, são trabalhadas à volta da ponta da Ọpọ́n Ifá: Ọ̀ní (crocodilo), Ọ̀pẹ̀lẹ́ (corrente intercalada com oito sementes côncava para a prática de consulta divinatória de Ifá), Obìnrin (representa uma mulher) , Ẹja (peixe) , Eku (ratos) ,  Àjàpà (tartaruga), etc. A presença de Èṣù no Ọpọ́n Ifá mostra a importância de Èṣù como mensageiro que retransmite as mensagens a Olodumare como prescrito pelo Ifá; enquanto a presença de imagens de animais mostra a importância deles nas crenças e práticas tradicionais dos iorubás. As marcas de adivinhação, Odù, criadas na Ọpọ́n Ifá, poderiam ser interpretadas como uma codificação simbólica de Ifá como uma divindade onisciente. No local de onde foi adquirido essa obra os motivos esculpidos, servem  também para atrair e concentrar axé a partir da narrativa impressa.

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Letra cinzel, 30, preta

Iroke Ifá

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Nimbus Sans, 14, preta, centralizada. caixa de texto.

 

Destaque: 55.88 cm / 7.62 cm, aproximadamente 2kg. Material: madeira e miçanga. Origem: Ilê Ifé.

Iroke Ifá com Opelé e Criança, Iroke Ifá com copa, Iroke Ifá : altura/largura: 30.988 cm / 5.588 cm, aproximadamente 200g. Material: madeira . Origem: Ilê Ifé.

O símbolo feminino comumente esculpido nos Irokes Ifá, é uma reverência ao poder das Ìyás, e simboliza a primeira Ìyá, a criadora da humanidade no seu momento de sublime criação da humanidade. Acredita-se que sem as quais não é possível a manutenção da vida, mas, nesse caso, principalmente porque é um acesso ao poder que se é preciso para a adivinhação, já a posição de dar à luz é a maior representação de poder. Os motivos evocam o poder feminino sobre a humanidade e somente a partir dele é possível acessar a comunicação entre  o orun e o ayê.  As figuras femininas aparecem na posição de Inkulé abyamo e  ornamentadas. Aquilo que é feito em nomes das grandes mães nesta posição de criação tem a intenção de ser alcançado com sucesso. Por isso, é um objeto utilizado pelo Babalawo no momento em que profere suas adivinhações ou suplica bendições às pessoas. A cabeça em forma de cone representa orí inú, a cabeça interna, de referência espiritual para os iorubás. O tema pode variar os motivos e aparecer com copas, mãos na barriga ou nos seios, segurando bebês em suas mãos, opele e ornamentadas como que para ocasiões especiais.  “O Iroke Ifá faz parte do processo de adivinhação de Ifá e é usado também para tocar a bandeja de adivinhação”. O objeto é segurado em sua parte inferior, enquanto a parte pontiaguda da cabeça fica livre. O motivo costuma ser esculpido em marfim ou em madeira, a lapidação expressam símbolo de importância para o uso dos sarcedotes iorubás.

 Cinzel, 30 e 20, cor preta, centralizada.

Galeria 2

orí

Obras: Tema sobre Iyami, Ilú Iyami, Inkule Abyamo com Criança, Ornamento de Cabeça Geledés, Escultura de Cabeça Epa, Escultura de Cabeça Egungun.

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Orí é o que define toda a vida de um iorubá no Ayê, por isso sua representação na arte é muito frequente e muito observada. O Orí físico está em relação com o Orí interno, e o Orí interno está em relação com a espiritualidade. Então, a elaboração de um rosto sereno é perseguido nas artesYorùbás, porque esse rosto sereno estará em contato com os deuses e precisa demonstrar equilíbrio, seriedade e calma para essa comunicação. A arte produz então um rosto com esculturas salientadas para uma boa observação de quem aprecia a obra, para que nada nos escape. Olhos capazes de absorver toda a beleza do mundo, cabelos ou adornos que se lançam ao alto… Tudo é feito para manter viva a conexão da cabeça com a ancestralidade. As obras também tem o interesse de nos lembrar que uma cabeça física bem moldada pelo artista é uma prece à cabeça interna para que ela esteja também bem moldada. Aprendemos, observando as obras, que o cuidado com a cabeça externa expressa o cuidado com a cabeça interna que deve estar sempre bem ornamentada. A arte é, também, uma forma de culto à cabeça. E, tudo isso, é representado de forma a ensinar a comunidade algumas regras e costumes sociais e fazer a comunicação com o mundo espiritual e isso precisa ser feito de modo a alcançar uma satisfação estética. A arte é o meio. As peças incluídas nesse tema demonstram o cuidado no esculpir da cabeça, a busca por um equilíbrio social através das súplicas às Ìyá, cujo um dos elos profundos se faz com o Orí de sua prole,  e, por isso, o fortalecimento desse elo com a ancestralidade.

Naiara Paula Eugenio

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Orí

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Letra cinzel, 30, preta

Tema Sobre Iyamí

Igba Iyami
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Altura/largura: 147.32 / 68.58 cm. Aproximadamente 20Kg. Material: madeira e miçangas. Local de aquisição: Sango Ota.

Na cultura iorubá o pássaro é a representação do feminino das Iyami. Ele voa de uma árvore para a outra em vigilância, assim como do orun para o ayê, representado a ligação e o controle delas sobre eles. Por esse motivo as aves que as representam são geralmente aves de rapina, notem, que os olhos esculpidos nas aves, assim como suas penas grossas, são semelhantes a de aves como corujas, por exemplo.  O tema Iyami, figura essa sala por elas serem essa ligação com a humanidade, são chamadas donas das cabeças da humanidade, delas dependem nossa boa orientação e o nosso destino, uma vez que, cada indivíduo antes de nascer para o ayê, escolhe seu ori e a escolha de orí é a escolha de Iyá. Desse momento em diante, seus destinos estão interligados.  

Na arte, os pássaros unidos aos temas do mefinino, principalmente das Iyami, podem também representar a tentativa de um equilíbrio social, já que, para manter tal equilíbrio é preciso adorá-las. Eventos como doenças, enchentes, pragas biológicas ou no cultivo de alimentos, são relacionados com o poder das Iyami de controlar a vida na terra. O pássaro teria então o poder da turbulência e também da calma, já que, se feito o que elas ordenam, a paz pode voltar a reinar na comunidade. Uma cobra enrolada é a representação da instabilidade, por causa de seu corpo sinuoso, escorregadio e inconstante, um pássaro que tenta engolir uma cobra pode estar colocando sua própria vida em risco. Isso significa que viver em sociedade é arriscado e por isso é preciso sempre louvar as grandes Iyá. A escultura também nos lembra que Iyá é aquela que dá a vida , mas que também pode tirar com o desequilíbrio social. são elas que fazem  a manutenção da vida e por isso delas dependem a vida no àiyé. O poder que exerce sobre a humanidade está também representado em seios rígidos trazendo o simbolismo da manutenção da vida através da alimentação que é produzida por ela. isto fala não somente do leito, mas sobre o que alimenta, e, também, sobre prosperidade, bênçãos, riquezas e alegrias. A imagem é sem dúvida uma representação de poder e força, aparece imponente em cima do cavalo guardado por sentinelas que procuram limitar o poder de destruição da grande Iyá, ao mesmo tempo que ela mostra ter orí da humanidade em suas mãos.  O lado terrível é uma demonstração de poder sobre a vida no sentido de criá-la ou destruí-la, suas feições, ao contrário da maioria das esculturas iorubás, causam a sensação do terrível. 

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Letra cinzel, 30, preta

ilú Iyamí

Ilú Iyamí
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Nimbus sans, 14, preta, centralizada. caixa de texto.

Altura/largura: 107.696 / 62.23 cm. 51kg, madeira, couro e cordão. Origem possível: Iporo-Ekiti.

Quantas vezes ouvimos falar da sociedade das Ìyá? Aqui, representado nessa impressionante lapidação, o artista traz à vida o itan que conta sobre a origem das Iyamí e o modo de vida delas nessa sociedade, pássaros e outros animais com rostos femininos são personagens do incrível trabalho da artista nesse super relevo. Bem, já sabemos que na sociedade das mulheres, todas as criaturas são fêmeas e assim é descrito aqui. A face terrível, a face socializadora, seus relacionamentos com a comunidade que deve adorá-las e acalmá-las. E, claro, seu domínio sobre o orí da humanidade representado com o rosto  e seus detalhes protuberantes, a cobra e o pássaro na cabeça. O tema da cobra e do pássaro na cabeça, representa a instabilidade social e a interminável busca por seu controle. Equilibrar orí  é o que se pede às mães poderosas, para que as atitudes individuais sejam agradáveis ao trato social evitando atritos e perigos para as relações. Equilibrar o orí de Iyá com o rí da pessoa humana para que sejam lembradas de zelar por elas também é a intenção, assim como o equilíbrio do mundo natural que, uma vez equilibrando garante a sobrevivência no ayê.

O tambor é dedicado ao cerimonial para adoração das Iyá, “com reputação mística utilizado por indivíduos responsáveis pelas invocações às mães ancestrais. Entre 1940-1943, a Sociedade Ogboni encarregou a Bandele (artista local) de esculpir vários instrumentos rituais, especialmente tambores, a maioria dos quais estavam alojados no Iledi, a casa de reunião dos seus membros em Iporo Ekiti. A sociedade Ogboni é uma sociedade muito poderosa, discreta e de organização sigilosa que raramente chama a atenção. Um  tambor é um indicador de poder e de prestígio além de um excepcional trabalho de arte”.

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Letra cinzel, 30, preta

ikulé Abiamo com Copa

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Ilú Iyamí
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Altura/largura: 55.88  / 7.62 cm. Aproximadamente 6k. Material: madeira e pigmento. Origem: Ilê Ifé. 

Uma figura feminina grávida ou com uma criança é  muito produzida por artistas na Iorubalândia. Ela representa aquilo que  de mais belo há na cultura, porque Iyá, a fêmea que procria, é aquela que produz beleza. Crianças é a representação da obra de arte que contém beleza. Existe uma grande adoração envolta dos temas femininos, algumas vezes representam o feminino com seu lado de grande poder controlador da humanidade, provocador de conflitos sociais. Noutras vezes, seu lado socializador. Em todas as vezes está retratado seu papel de Ìyá, e é venerada como aquela que gerou e mantém  com seu alimento, seja ele o leite produzido por seu corpo ou aquele que é produzido na terra, que garante a vida e  proteção das pessoas. E é isso que está representado nessa obra, Ìyá como aquela que carrega a humanidade em lugar seguro junto a seu próprio corpo, o cuidado e o suporte que acompanha o desenvolvimento de sua prole. Prole que está totalmente apoiada nesse corpo feminino o que nos traz o entendimento do corpo femino como aquele que ampara a humanidade, e seu olhar sereno pronto para absorver a beleza do mundo. O motivo da obra é o Inkulé Abiamo, feminino ajoelhada para dar à luz. Esse é o momento em que essa divindade é mais sublime e poderosa e venerada, porque é o momento em que está criando a humanidade. Não se pode confundir estar de joelhos com súplica feminina, o feminino não suplica, ao contrário, se faz súplicas ao divino em nome de seu poder. Lembra a quem suplica que o maior poder é este, que a humanidade pertence a ela. A obra está ornada com jóias e tatuagens e ileke, seu corpo está pintado com um pigmento vermelho usado na iorubalândia como símbolo do feminino e significa coisas como menstruação, parto, a violência e forte energia de poder. Seu penteado alongado, símbolo da interação do orí de Iyá com o orí da humanidade, é também um penteado de identificação comunitária, chamado irun agogo, geralmente usado por devotas ou sacerdotisas de Oxum, um dos nomes da A Grande Mãe.

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Letra cinzel, 30, preta

ornamento para cabeça Geledé

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Altura/largura: 46.482 / 45.72 cm, aproximadamente 4k. Material: madeira e pigmento. Origem possível: Yewa. 

Essa é uma escultura feita para o espetáculo Geledé, que ocorre em diferentes cidades da Nigéria. Ela tem uma cavidade interior com abertura em sua parte inferior para se acomodar na cabeça de um dançarino. Os artistas que produzem as máscaras para esse espetáculo são muito requisitados e considerados especiais por sua sensibilidade no trato do talhamento das peças. Além de ser um escultura tradicional, o ornamento de cabeça Geledé, precisa apresentar um toque de criatividade do artista o que faz com que o trabalho seja procurado com muito cuidado por quem encomenda as peças. Apenas homens “dançam o ornamento”, isso porque o espetáculo é uma oferta às Grandes Mães. A escultura é vestida em cima da cabeça e não no rosto, o que fixa a intenção de lembrar as grandes Mães de sua ligação com a humanidade pelo orí. Ornamento de Cabeça Geledé, tradicionalmente buscam entreter e animar o feminino, seus motivos são recomendações de ética social, sátiras, vida natural e cultural. Nessa obra vemos um percussionista de dundum, o tambor que fala, característico do próprio espetáculo e de outras manifestações na iorubalândia, geralmente usados por griôs. 

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ornamento para cabeça Egungun

Altura/largura: 29.21 / 34.544 cm. Material: madeira e pigmento. 

No festival Egungun é quando os iorubás festejam seus ancestrais masculinos, muita alegria é expressa em muita cor para o momento especial da passagem dos entes queridos pelo ayê. As esculturas representam esse grande momento da visita quando os ancestrais renovam as boas energias e compartilham conhecimento para o bem viver entre a comunidade. Esse momento refaz a certeza de que a vida não tem um fim, nem a dedicação que a comunidade deve ter com os ancestrais. É uma festa em família, já que o entendimento de família para o povo iorubá compreende os que ainda não nasceram e os que já estão no orun. A cabeça esculpida com grandes orelhas esticadas segue um padrão estético dessas esculturas, o exagero, muitas cores vivas são acompanhadas de características exageradas também para expressar a captação e entrega de conhecimento pelos sentidos. Uma forma de identificar o orí como sendo um lugar especialmente tocado pela espiritualidade, é pela cabeça que se faz as ligações mais importantes, olhos que observam para corrigir ou aperfeiçoar, por exemplo, bocas que comem e apreciam a comida que alimenta os ancestrais, ouvidos que ouvem os conselhos e os pedidos também. O motivo esculpido nesse orí Egungun é um tema recorrente nas máscaras que são apresentadas à noite durante o festival, uma lebre, animal igualmente de atividades noturnas, simboliza a rapidez para a vigilância da comunidade, a cura de doenças, resoluções de problemas e a limpeza dos males na comunidade, aquilo que se deseja com a visita dos ancestrais.

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Letra cinzel, 30, preta

ornamento para cabeça Epa

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Altura/ largura: 28.5 / 30.48 cm, aproximadamente 4,5kg. Material: madeira e pigmento. Local de aquisição: Ikire Ekiti. 

 

Essa é uma escultura do festival Epa, na Nigéria, que festeja grandes e bons feitos de heróis da comunidade. Esse é o tema do guerreiro, que vem montado a cavalo cercado de pessoas em festejo. As esculturas tem por temas recorrentes a representação de sua comunidade em seus costumes. O festival prevalece principalmente entre os Ekiti, Igbomina e Ijesa, usadas também para honrar os heróis culturais, aplacar forças sobrenaturais e gerar o bem-estar social e espiritual da comunidade. Os entalhes da peça mostram homens e mulheres com os mais diversos trajes e ferramentas, o que remete à convivência social.

O festival Epa, que é bienal de uma semana, reconhece o papel que as pessoas desempenham na construção bem sucedida da comunidade. Na festa Epa, essas pessoas realizam a cerimônia com grandes máscaras esculpidas em madeira, sendo Epa uma divindade masculina do norte que já foi um entalhador. As peças são pesadas e sua sustentação no festival já demonstra a força dos homens que as carregam, sacrifício e bom presságio. Quando não estão sendo usadas na cerimônia, as peças são reservadas em axés onde os habitantes podem fazer pedidos e entregar suas oferendas aos ancestrais. É uma das representações frequentemente retratada na tradição de Epa,  um líder (ou herói) a cavalo cercado por duas fileiras de caçadores, músicos, e outras figuras centrais da comunidade, que o envolvem e acompanham.

 Cinzel, 30 e 20, cor preta, centralizada.

Galeria 3

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Obras: mulher com crianças e tríptico

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Ìwà Lẹ́wá, pode ser interpretado como “caráter é beleza”, ou ainda “a beleza é o caráter de uma pessoa”. E a beleza para o povo iorubá é fundamental. O iorubá olha para o mundo em busca da beleza e vive sua vida construindo coisas belas. Para o iorubá tradicional, beleza é um conjunto de características aplicáveis que moldam e refletem um todo comunitário, características materiais e imateriais. E a lapidação do caráter está em relação com a lapidação de uma obra de arte. E isso é o que chamamos de ìwà, caráter, o que faz com que o indivíduo produza coisas agradáveis para sua comunidade. O indivíduo se  molda até que esteja de acordo com os padrões sociais, contribuindo para a harmonia e o bem estar de todos. Ìwà Lẹ́wá é quando a beleza externa está de acordo com a beleza interna e pode ser constatada no trato social. Respeitar os mais velhos e proporcionar boas experiências comunitárias, preparar o mundo para que ele seja um lugar melhor para os que nele estão, para os ancestrais e para os que virão, essas são características de Ìwà Lẹ́wá. A apreciação estética, então, passa por compreender a necessidade da transmissão dos bons costumes iorubás. Esses costumes estão talhados em objetos ou em atitudes, ou na comida, nas cores, na maneira de tratar com a natureza externa e interna. Quando nos perguntamos o que é beleza para os povos iorubá, uma das respostas pode ser que a beleza é uma ética aplicável sobre as coisas que representam a cultura, baseada na transmissão de ensinamentos que fortalecem os laços comunitários e o caráter coletivo. Com isso, para os iorubá, a beleza é um conjunto de fatores que aparecem interligados para a percepção, a experiência estética é um conjunto interligado de sensações conectado ao todo pluriversal. Um exemplo da experiência estética iorubá pode ser descrito quando para entender Ewá, a beleza, em um indivíduo, é preciso perceber na ação deste o bom caráter (ìwà rere), que deve estar acompanhado da serenidade, generosidade delicada do caráter (ìwà pẹ̀lẹ́).

Naiara Paula Eugenio

​Ìwá L'Ewá

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Letra cinzel, 30, preta

mulher com crianças

Altura/largura: 35.56  / 45.72 cm, aproximadamente 5kg. material: madeira. Local de aquisição: Ilê Ifé.

 

Os entalhes das portas africanas são um espetáculo por si só, muitas vezes são separadas em placas e ornam espaços como objeto para contemplação estética. Esta placa foi adquirida em Ilê Ifé sem origem catalogada, o tema é certamente iorubá: mulher com crianças pilando inhame. Esculpida com riquezas de detalhes, apresenta uma típica mulher africana que alegremente carrega sua criança num ojá amarrado em suas costas. O tema do ojá é sempre confortante, e sugere a ligação da criança com sua Iyá e dos cuidados que esta tem com a criança. Além de oferecer abrigo para sua criança menor, a mulher ensina um ofício doméstico à sua criança maior e, ao mesmo tempo, executa a tarefa de bater inhame para fazer uma iguaria africana popular. As crianças estão alegres e parecem se agradar do momento de atividades cotidianas. Isso insinua que é uma placa para ensinamentos afetivos e domésticos, aqueles que precisam ser ensinados às crianças desde pequenas. O rosto sereno da mulher indica ser essa uma tarefa que colabora para a elaboração do seu bom caráter por estar colaborando para a manutenção das tradições. A placa também reafirma uma estética cultural, a arrumação de uma casa tradicional, quando nos mostra objetos de uso da casa da mulher com suas crianças, lâmpada, cestos, tipo de roupa, o pilão e o penteado de cabelo.

Letra cinzel, 30, preta

tríptico

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 Material: madeira. Local de aquisição: Ilê Ifé.

 Estas placas são um belo demonstrativo para se compreender ewá l’ewá, porque ela relata atividades coletivas para uso coletivo, além de ter a preocupação de elaborar a beleza material de cada indivíduo e do ambiente como se eles mesmo a tivessem elaborando ao longo do tempo em que elaboram o festejo da comunidade. A leitura é feita na horizontal e primeiro de cima para baixo. No início, tem atividades bem primeiras como colher o fruto e arar a terra, os indivíduos desse quadro estão vestidos de maneira mais simples. Segue-se então o que nos parece a construção do que podemos chamar da beleza da comunidade, que é a compreensão de que beleza é a junção de aspectos materiais e imateriais, porque a medida que a festividade vai se aprontando as pessoas vão ficando mais elaboradas no tocante ao que vestem, unificando a beleza de suas aparências com a beleza que é construir um ambiente agradável para que todos possam usufruir juntos.  O caráter é a beleza de uma pessoa e bom caráter é respeitar os costumes, os mais velhos e melhorar a comunidade. Tudo isso podemos ver nessa exuberante escultura. 

 Cinzel, 30 e 20, cor preta, centralizada.

Galeria 4

e ku

Obras: mulher com crianças e tríptico

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Ẹ Kú é o tema da nossa última sala que vem para trazer alegria e desejar que tudo o que você faça seja bom, agradável e bem sucedido. Ẹ Kú é uma expressão recorrente no cotidiano iorubá, uma forma de demonstração de amor no coletivo, sempre desejando sucesso em  tarefas e acontecimento: Ẹ Kú iṣẹ́ – bom trabalho; Ẹ Kú ewu ọmọ o, uma criança nasceu; Ẹ Kú àbọ̀ – bem vindo; Ẹ Kú alẹ́ – boa noite. Ẹ Kú é a certeza que a vida só faz sentido em comunidade, e que nesta comunidade apoiamos uns aos outros. Ẹ Kú celebra, conforta, anima. Com essas esculturas que representam o agradável, a fartura, a riqueza, a bonança, a vida boa em sociedade, deixamos nossos bons desejos para vocês, assim como nos costumes iorubás.

 

Ẹ Kú orire o!

Naiara Paula Eugenio

Carolina Maíra Morais

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e ku

Local:

Lapa - Rio de Janeiro Brasil.

 




 

© 2014-2025

Por Naiara Paula Eugenio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem do cabeçalho: Mulher com duas crianças carregando uma cabaça na cabeça (Arugbá). Madeira, uáji, pigmentos outros. Século XIX.

 

Arte Iorubá atribuída a Kobi Ogun Kakeye d'Òràngun-Ìlá.

 

Museu de Arte, Foudation for the Arts Collection, Gift of Mr. and Mrs. Atanley. Dallas, EUA. Fonte: Babatunde Lawal. 

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